Existem diversas formas de aplicação de poupança em Portugal. É importante conhecer bem as suas diferenças para poder tomar uma decisão acertada.
Começando pelos produtos de menor risco, temos os depósitos a prazo, que na prática são empréstimos a bancos e que têm hoje em dia taxas de juro entre 0% e 2% líquidos (o melhor depósito a 1 ano).

Depósitos a prazo e certificados de aforro: como e onde investir
Os Depósitos a Prazo são de capital e rendimento garantido pelo Banco. O risco deste investimento consiste na probailidade de o banco falir e não conseguir reembolsar a sua dívida. Nestes casos, existe uma garantia adicional que é o Fundo de Garantia de Depósitos e que garante depósitos até 100.000 euros em caso de falência do Banco. Se diversificar os seus depósitos e não depositar mais do que aquele valor no mesmo banco à partida não terá problemas. O principal inconveniente dos depósitos a prazo é a sua taxa de juro que, apesar das recentes subidas, continua a remunerar de forma bastante reduzida a sua poupança. Neste casos, sobre o juro obtido o banco retem IRS à taxa de 28%.
Com um nível de risco equiparável, temos os certificados de aforro que são empréstimos ao Estado Português e cuja taxa de juro atual atingiu o máximo de 2,5% líquidos.
Quer os Depósitos a prazo quer os Certificados de aforro fazem sendido para quem não quer correr riscos e pretende ter um rendimento garantido. Dada a sua baixa remuneração devem ser privilegiados apenas para a parte das nossas poupanças que prevemos vir a necessitar a curto prazo, uma vez que, o efeito de capitalização neste caso é reduzido.
Seguros de vida de capitalização
Ainda num nível de risco bastante reduzido, temos os seguros de vida de capitalização, cujo rendimento é normalmente garantido por uma seguradora, e cuja melhor taxa de rentablidade garantida atualmente é de cerca de 2% (taxa bruta).
Os seguros de vida têm uma vantagem significativa em relação aos depósitos e certificados e que consiste na sua tributação em IRS, ou seja, enquanto que nos depósitos e certificados os seus rendimentos são sempre taxados a 28%, no caso do seguros de capitalização essa taxa só se aplica caso efetue o resgte do seguro nos primeiros 5 anos. Se mantiver o seu investimento mais de 5 anos a taxa é reduzida para 22,8% e se mantiver mais de 8 anos, a taxa reduz-se para 11,2%. É um grande incentivo à poupança de longo prazo.
Fundos e obrigações
A seguir temos as obrigações que são empréstimos a empresas ou a países e que podem render mais mas, têm mínimos de investimento muito elevados, pelo que é aconselhável investir através de fundos de obrigações, com mínimos de investimento simbólicos e em que o risco acaba por ser inferior ao de investir em obrigações em direto. Também aqui existe uma tributação de 28% quer sobre os cupões (juros) da obrigação quer sobre a eventual mais valia (diferença entre o preço de compra e o de venda).
Já os fundos PPR constituem investimentos em carteiras diversificadas de obrigações e acções. Estes produtos têm uma grande vantagem fiscal pois, tal como no seguros de capitalização, existe um incentivo à poupança de longo prazo. Neste caso em particular, o máximo que pode pagar de IRS é de 21,5%, em vez dos 28% de todas as outras aplicações financeiras (seguros de capitalização incluidos). No caso de manter o PPR mais de 5 anos a taxa reduz para 17,2% e, caso mantenha mais de 8 anos, a taxa é de apenas 8,6%! Em 2023 existem alguns fundos PPR que obtiveram rentabilidades de dois dígitos.
Com um maior potencial de rentabilidade, mas também de risco, temos os fundos flexíveis, cuja exposição a ações varia de acordo com o ciclo de mercado, o que é uma grande vantagem pois permite reduzir a exposição ao risco quando necessário.
Para os menos aversos ao risco, temos as acções e fundos acções, cujas oscilações são mais acentuadas, mas que a longo prazo tem maior potencial de valorização (nos últimos 10 anos o mercado acionista global obteve um retorno médio anual de cerca de 11% ao ano – MSCI World). Estas duas últimas opções de investimento são ambas taxadas a 28% em sede de IRS.

O perfil de investidor
De acordo com um estudo recente da Associação Europeia de Fundos de Investimento existem cinco aspectos importantes que um aforrador deve preparar antes de se tornar num investidor.
O primeiro é a criação de um orçamento. Este orçamento deve ter em conta todos os rendimentos obtidos e todas as despesas. Só tendo um orçamento conseguimos saber qual a nossa capacidade de poupança atual e podemos analisar o que podemos fazer para a melhorar.
O segundo ponto tem a ver com os juros compostos e conclusão é a de que quanto mais cedo começarmos a poupar e a investir melhor, pois o efeito de capitalização é muito maior. O horizonte temporal de investimento é muito importante neste caso (tem uma importância superior até do que o montante investido).
O terceiro aspecto tem a ver com a avalição dos riscos associados a cada investimento. Neste caso, o risco tende a diminuir com o prazo, ou seja, quando maior for o meu horionte de investimento, maior risco eu poderei assumir uma vez que as oscilações dos mercados financeiros tendem a diminuir à medida que o investimento se prolonga. Aqui é imporante também referir que não nos devemos deixar levar pelas subidas e descidas do mercado. A experiência demonstra-nos que muitas vez a melhor decisão é mantermo-nos fiéis à estratégia de investimento definida e esperar que a “tempestade” passe porque depois, normalmente, vem a “bonança”. É importante também ter uma carteira diversificada e equilibrada entre ativos de menor risco e ativos de maior risco (e maior rentabilidade potencial). A diversificação permite também diluir o risco (não colocar os ovos todos no mesmo cesto). Aqui os fundos de investimento desempenham um papel importante pois juntam dinheiro de milhares de aforradores e permitem usufruir de diversas vantagens:
- são geridos por profissionais o que lhes confere um maior grau de segurança do que obteriamos se investissemos individualmente e em directo;
- o risco dos fundos de investimento é limitado pois existem diversas regras prudenciais que são impostas por lei e que condicionam as politicas de investimento e implicam um diversifificação dos investimentos;
- o volume de ativos sob gestão dos fundos de investimento confere-lhes um maior poder negocial o que é uma grande vantagem para o aforrador individual pois consegue assim aceder a investimentos que de outra forma estão inacessíveis. Permite também aos pequenos e médios aforradores usufruirem de uma redução de custos de transação comparativamente aqueles que teriam de suportar para uma operação em nome individual.
- a obrigatoriedade de prestação regular de informação por parte das sociedades gestoras e o facto de serem supervisionados pela CMVM confere-lhes um elevado grau de transparência. Hoje em dia as carteiras detalhas dos fundos de investimento são públicas.
Em resumo, a escolha de onde investir depende do seu objetivo de investimento, do seu perfil de investidor e do horizonte temporal do seu investimento.
Antes de tomar uma decisão, compare as várias opções, ao nível das rentibilidades, ao nível dos custos e da fiscalidade. E, não se esqueça de não colocar os ovos todos no mesmo cesto.